O bom de ver Clarice é isso:
Visitar o CCBB e ainda ganhar um caderninho de anotações com a fotografia dela na capa.
Por gostar de escrever, Clarice começou este ofício muito cedo.
Aos nove, foi ver uma peça de teatro e gostou tanto que escreveu outra peça em três atos.
Mas o texto se perdeu.
Aos onze, ela enviava histórias para o jornal de sua cidade, na época, Recife.
Só que nunca aceitaram as colaborações da pequena Clarice.
Ela não desistiu de seus sonhos.
Recebeu vários "nãos" e mesmo assim seguiu em frente, com sua meta forte, viva, na mente.
Não desistiu de escrever.
Dizia que escrever era a sua maneira de entender o mundo.
E se era...
Importante era.
Alimentava a sua alma.
Clarice amava a língua portuguesa.
Gostava de manejá-la.
Se fosse muda e pudesse escolher uma língua mãe, seria o inglês, método preciso, prático e belo.
Porém, não muda e podendo falar, ler e escrever, Clarice queria mesmo era escrever em português.
Nascida na Ucrânia, morou em Maceió, Recife, Rio de Janeiro, Belém do Pará, Nápoles, Berna, Estados Unidos, publicou livros e mais livros, casou, descasou, traduziu, escreveu e recebeu prêmios, fez entrevistas, fez crônicas, se descobriu doente e morreu no Rio.
Mas, Clarice, bela e fera, estrela, estrangeira, maçã no escuro, paixão, via crucis, água viva, corpo inteiro, felicidade clandestina, laços de família, perto do coração selvagem, um sopro de vida, prazeres, aprendendo a viver, correspondências, outros escritos, correio feminino, só para mulheres, como te esquecer, Clarice?
Como?
Não tem como!
Corra! A mulher que matou os peixes, quase de verdade e como nasceram as estrelas, estará somente até o dia vinte e oito de setembro dentro do Centro Cultural Banco do Brasil, exposta aqui, neste mar, mistério do coelho pensante e de tantas outras lebres errantes; Rio de Janeiro. Vá lá pegar seu caderninho.
Anote os seus escritos. Faça seus rabiscos.
A hora da estrela é com você.
Quem sabe faz a hora.
Seja ágil, veloz, safo...
Não espere acontecer.