sexta-feira, 15 de março de 2019

Os cinco sentidos do nada

O que se escreve quando se pensa que já se viu de tudo? Se sesse... Não, você não viu de tudo ainda. Te falta. Há muito mais o que se ver. Para quem fica, continua a ouvir e a quem possa interessar assistir essa louca história da vida, aqui estamos presenciando entorpecidos ou eletrificados, as causas e efeitos do viver um dia após o outro. Micróbios, animais e vegetais, somos um todo funcionando loucamente de maneira patética, histérica, mórbida, crítica, insensata, racional, dinâmica, estúpida, eu diria até surreal, enigmática, porém ambiciosa de respostas e refém de nós mesmos. O que faz termos amor ou raiva, estudarmos antropologia ou matemática, comunicação ou medicina, tomarmos fortificantes ou venenos, criarmos ou eliminarmos coisas? O que nos torna seres completos ou faltando pedaços? O que nos impulsiona a ir ou deixar, encontrar ou desencontrar, cavar ou empurrar, armazenar ou esvaziar? Onde está o eixo de tudo? O que ocasiona o monte e o desmonte do quebra-cabeça? Qual o comando do universo? Ou é o caos que realmente reina? Para que tanta dor ou prazer? Pra que tanto barulho? E o silêncio? Ele responde alguma coisa? Se o silêncio acalma as almas, por que ganhamos a visão? É para ver o horror e a beleza gritante das coisas e depois dizer chega. Por que temos o tato? É para tocar e sentir as texturas e tamanhos, sentir dor, sentir a pressão, o calor, o frio e depois dizer basta. E por que o olfato? Para percebermos o cheiro bom e ruim de tudo. Para que serve o paladar? Para descobrirmos o gosto, o sabor, a doçura, a amargura, o azedume e o sal do que comemos e bebemos. E para que serve, por fim, a audição? Seria ela o último sentido, já que o silêncio é o que nos espera, depois de tanto ver, crer e não mais crer?