segunda-feira, 8 de abril de 2013

Estraga o Onofre

Acabo de voltar de uma temporada na Itália. Em dezembro passado adquiri cidadania italiana, logo resolvi conhecer um pedaço de minhas origens. De passaporte europeu nas mãos, embarquei para o Vêneto, no norte frio, e lá me instalei numa cidade pequena chamada Pádova. La vita è bella... Non te preocupa, ragazza... Non siete soli... Allora... Adesso... Quindi... Concatenando as ideias... O que mais ouvi num curso que fiz foi isso. Palavras saídas da boca da dona e da professora do Instituto. Ora, ora, que instituição... Tão perdidos na língua e sozinhos na cidade quanto eu. Quero fazer um poema, uma poesia, um conto, uma prosa ou um verso sobre essa história. Não sai nada. Ainda não sai nada. Foi tudo tão corrido, que para completar, parece que não fui. Meu passaporte está sem um carimbo. Que ironia... a brasileira que virou europeia e não foi carimbada. Temos tantos papeis escritos, tantos papeis representativos... Imposto de renda, carta de identidade, CPF, CEP, endereço fixo, endereço virtual, título de eleitor, carteira de trabalho, cheque, conta bancária, P.I.S, receita de bolo, boleto de banco, agenda, calendário, livro, caderno, lição, medidas, tudo escrito e contado. E eu não sei contar o que houve. Está tudo registrado, mas não sai da minha cabeça, não entra no papel, nem quer entrar na parte branca do Word, reservada para digitação, neste laptop. Ele foi comigo, o laptop. Também voltou afetado. Onofre. Alfredo. Vou ter que me ausentar. Ajudar no preparo de um belo estrogonofe. Volto em breve. Para tentar contar o que é necessário e salutar. Comer. Rezar. E amar. Encontrando a ordem. No calor dos neurônios. E na clareza obtusa do fogão.