terça-feira, 23 de julho de 2013

A história de amor do golfinho e da baiacu

A baiacu formosa era bem mais madura, já tinha alguns anos de contramão. Era um peixe safo e vacinado, tinha cicatrizes na pele, fruto de suas peripécias aquáticas. Ela passeava leve e solta, sempre sorrindo, com seus olhões bem abertos, pelas águas, ora claras, ora turvas. O golfinho era galã, formado em distração, surfava livre deixando peixinhas grandes e pequenas apaixonadinhas quando caíam em sua rede. Segundo ele, elas até choravam. Segundo elas, ele era bem exagerado. Tinha excesso de hormônios e também uma sede elétrica pelo óleo das embarcações que cruzavam o raio onde nadava. Numa bela madrugada, antes do amanhecer, golfinho parado, baiacu dançante, amigos peixes por perto, festa no mar, banda de caranguejos tocando, um tubarão rondando, lagostas observando e ele chegou nela. A baiacu, sempre alerta, com seus dentes brilhando, continuou a bailar. O golfinho, tímido mas muito obstinado, não arredou o rabo e as braçadeiras. Chegou junto, encarou aquela boquinha e as barbatanas da baiacu. Ela até gostou. Ele era quentinho. O mar estava calmo, tranquilo, sem ondas. Nenhum outro peixe quis atrapalhar a cena. A "colazione" e o "pranzo" viriam logo em seguida. Muitas horas depois. Muitas, diversas, demasiadas, infinitas horas. Golfinho resolveu segurar a baiacu. Mordia e soprava, pra não dar tanta certeza. Afinal, certezas, quem as tinha? A festa no mar estava bem boa. Baiacu gostou de colar com golfinho. Golfinho curtiu balançar com baiacu. Nenhum dos dois sabia, mas Eduardo e Mônica, Renato Russo já dizia. Baiacu linda, grunge, golfinho bonito, gastador de onda. Todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa que nem baião-de-dois. Mas Cazuza disse, suporte baby, baby suporte. Só não me xingue, só não me xingue, de sub sub sub sub sub o quê? Você é um golfinho. Eu sou uma baiacu. Claro que não! E acordam do sonho. Puf! Quem fez pum? Você, não se lembra? Eu, não! Tá. Me leva pra casa? Espera a minha irritação passar. Deixa eu ver esse programa. Plaza de Toros. Já estive lá. Madrid. Festival de motocross. Já não estamos mais no mar. É a Terra. Pronto, passou. Vamos? Bora, Bora. Acabou. O mar secou. Até uma próxima maré alta. Quando a maré encher, quando a maré encher. Delfin.

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