Penso que as pessoas têm estações.
Da mesma maneira que os frutos, flores, luas, marés, ventos, ventanias, voos de pássaros, revoadas, cios, sim, nós humanos, também temos nosso tempo.
E às vezes enjoamos uns dos outros.
Principalmente quando esses outros em questão não têm muito a acrescentar.
Estudam pouco, leem pouco, trabalham pouco ou quase nada, conhecem poucos lugares, conhecem poucas pessoas, poucos sabores, poucas cores, poucas vozes, poucos sotaques, não respiram ares diferentes.Gente que vive num mundinho pequeno, dando voltas pela mesma circunferência, não se expandindo, sem olhar pra frente e enxergar que voltas também podem ser dadas mais além do que em seu universo particular.
E por falar em particular, o que me faz enjoar de certas pessoas é o jeito delas de invadir o território alheio.
Há aquelas invasoras engraçadas, divertidas, espalhafatosas, barulhentas, indiscretas, mas que no meio de uma invasão, ou no auge da mesma, compreendem e percebem os limites que dividem uma pessoa da outra.
Conseguem parar na hora certa.
Não, essas não me enjoam.
Eu passo até a admirá-las.
O receio de antes se transforma em aprendizado e aprendo a aceitar a invasão como algo até simpático, dados os devidos limites. É geralmente através de um sorriso revelador ou de uma troca profunda de olhares que são demonstrados esses limites.
Para essas pessoas reconheço inteligência e dou meus parabéns.
Mas existe infelizmente outra categoria de gente que invade o seu território e na burrice de ser o que é (e nunca na beleza), atrapalha a nossa trajetória, fazendo fuxicos e fofocas desnecessários, comentando assuntos que não são de sua alçada, te expondo ao ridículo, inconscientemente, para tentar te igualar ao que ela transparece ser, pelo simples fato de não ter sido preparado ou preparada a malhar o cérebro.
Isso é triste.
E nessa estação eu não quero, definitivamente, mais estar.
Hiberno pra deixar ela passar, porque a minha estação é sempre a do elogio em vez da fofoca. Da ação em vez do retardo.
Se eu posso escolher para onde devo caminhar, eu escolho o caminho do sorriso, da cura e da construção.
"Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?"E nesse 13 de junho, entre Santo Antônio e Fernando Pessoa, com certeza fico com o Pessoa. "Tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da civilização e o alargamento da consciência da humanidade" ... "Com o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada".
13 de junho de 1888 em Lisboa.
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