De mim suor frio escorre e um tremor toda me prende. Mais verde que erva estou - e bem morta, por bem pouco, pareço... Mas tudo é para ousar... fr. 31 V
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
A arte de conviver
Sejamos artistas.
Pois conviver é uma arte.
Das mais dolorosas.
Requer muito cuidado.
Fazer o que falam.
Mas não fazer o que fazem.
Olhar e perceber defeitos.
Fechar os olhos para as qualidades.
É osso duro de roer.
Mas para estarmos vivos é preciso conviver.
Por mais que nos desagrade a ideia.
Ter que ver todos os dias cenas tranquilas de mosteiros tibetanos ou cenas tórridas de guerras do Peloponeso.
Fingir que não vê ou mostrar bem que está vendo.
Ser falso, nebuloso ou ser verdadeiro, pigmentado.
Jogar tudo pro alto ou engolir um sapo de cada vez.
Escorregar no quiabo ou se equilibrar num trapézio.
Dar uma de gorila ou bancar uma de capivara.
Dar pinta de fina ou pisar com patas de barraqueira.
Chocar ou nem se fazer notar.
Ser politicamente correto na honestidade e na verdade.
Ou ser politicamente correto no fingimento e no cinismo.
Posar de alguma coisa que não é.
Ou chutar o balde e mostrar diversos ângulos de seu rosto.
Camuflar uma personalidade praticando o mimetismo.
Ou afiar unhas e dentes se preparando pra luz do sol ou a luz da lua.
Saber amar, somar, auxiliar, experimentar.
Saber baixar a guarda.
E saber acima de tudo que jogo é esse que cada um joga.
Pra depois no fim, se estrepar.
Porque a nossa pele ninguém salva, só a gente mesmo.
E só o artista sabe o valor de cada ruga, de cada cicatriz de sua jornada.
Das perdas e ganhos que o convívio nos oferece.
Só sabe quem nasce e se conscientiza.
Bem vindos ao nascer e à consciência.
Pesada ou leve.
Pesados ou leves.
Sejamos artistas.
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