Confesso que fiz julgamentos precipitados e desastrosos a respeito da moça desaparecida: Elisa Samudio.
Até então, nunca se tinha ouvido falar nela e foi justamente graças às câmeras, aos microfones, aos jornalistas e à polícia que Elisa apareceu. E depois, desapareceu.
À primeira vista, lendo notícias sobre o caso e assistindo a seus depoimentos em vídeos da internet pensei: "Que mulher burra! Se expondo sem pensar nas consequências de seus atos e palavras... Ela está pedindo para morrer".
E de fato estava.
Ontem vi na TV uma entrevista concedida por um advogado renomado de São Paulo que diz levar seus alunos universitários para as comunidades carentes a fim de conhecer de perto os problemas de pobreza, abandono, tráfico, milícias e descasos da sociedade para com o cidadão comum.
Este advogado sim, tem amor à profissão. O que ele quer é consertar o que está errado e aplicar as leis mais justas e favoráveis. Ele não está brincando de política nem de poder, ele está atuando como ser humano preocupado com o seu semelhante e com o bem-estar geral. Ele é dos poucos que respeitam o próximo e que tentam passar adiante esse respeito.
No caso de Elisa Samudio, ela, por toda a sua história, nunca foi nem nunca soube o significado de ser respeitada. Em sua vida houve histórias de abandono desde a infância, tanto pela mãe, quanto pelo pai. E há de ter havido abandono pelos namorados também. Até que o último, o goleiro Bruno, fez o serviço sujo de engravidá-la e não assumir a paternidade da criança.
A frase que o advogado idealista de São Paulo citou e que é forte, real e presente é a seguinte: "-Quem não tem medo de morrer, não tem medo de ir para a cadeia".
O goleiro Bruno e seus comparsas têm medo tanto de morrer quanto de ir à cadeia, mas Elisa não. Elisa não tinha medo de nada, nem de fazer filmes pornográficos; tamanha a exposição!
Bonita ela não era, inteligente também não, instruída muito menos, culta, só em matéria de futebol, afinal, sabia o nome de todos os jogadores do Brasil e do exterior, além de seus times, seus carros, suas viagens, a data de seus jogos, os endereços das casas onde se realizariam churrascos e pagodes, os MSN's e os telefones fixos e celulares de uma diversidade de jogadores... Pobre Elisa...
Inocentemente escolheu sua morte. Ingenuamente se arriscou. Irresponsavelmente engravidou. E brutalmente se acabou.
O bebê ficou. Está vivo nos braços do avô, que um dia foi pai de Elisa, filha de pai ausente, de mãe ausente; que agora aparecem na midia chorando pelo desaparecimento da filha. Por que não choraram antes por terem a abandonado?
Agora é tarde. Que o filho de Elisa Samudio e do goleiro Bruno cresça de cabeça erguida, sem traumas. Difícil, mas que sirva de lição para tantas famílias que esquecem de dar respeito ao próximo, carinho, educação, bons tratos, alegria, amor, compreensão.
Outro ser, mito, personagem da vida que me faz pensar sobre sua história e seu final triste é a imperatriz ou rainha Sissi, da Áustria. Ela, diferentemente de Elisa Samudio, era linda. Considerada na época, uma das mulheres mais bonitas da Europa, casou-se aos 16 anos, foi morar num castelo, teve seus filhos, mas foi proibida pela família do marido de participar da criação deles e viveu a beira do abismo, sempre deprimida, usando viagens e passeios para esquecer das mágoas e desilusões. Seu destino, sua sorte, sua morte? Assassinada por um anarquista italiano sentada num banco junto de uma amiga, contemplando uma paisagem, contemplando a natureza.
Mas antes, diz a lenda, havia um corvo sobrevoando a vítima e a vítima já antevia sua morte. Parece que Sissi já o esperava há tempos. E esperava sentada, pois já estava cansada de tanto aguardar. Sua vida já estava acabada, não existia mais sentido.
Essa história me remete a um conto de Franz Kafka: O abutre. Tão lindo e assustador é.
Enfim, todas as histórias se repetem, como um espiral que vai e vem. O que muda é o cenário e o figurino.
Mas as pessoas são iguais em qualquer lugar do mundo. Umas tristes, outras felizes, cada qual um caso.